BolsaSup.com | Poucos com tudo e a maioria com nada
Hoje, ao ler os jornais pela manhã, deparo-me com estes dois títulos de notícia, face aos quais não consigo ficar indiferentes.
Por um lado, constatamos que aqueles que usam e abusam das poupanças do povo trabalhador, acabam premiados com reformas exageradamente milionárias, enquanto que a esmagadora maioria dos cidadãos passa toda a vida a trabalhar e a viver nos limites da pobreza, para depois aceder a uma reforma ou pensão de miséria e tantas vezes a um fim de vida indigno por não ter sequer meios para tratar da sua própria saúde.
Por outro lado, fruto da indiferença ou das más políticas sociais, de integração, de habitação e de um alojamento local desregulado, deparam-se agora os estudantes do ensino superior e as suas famílias, designadamente os deslocados, com sérias e preocupantes dificuldades em conseguir um alojamento a preços compatíveis com a sua situação económica e com as parcas bolsas de estudo, que, na maioria dos casos, só suportam os encargos da propina e com fórmulas de cálculo que só tomam por base o rendimento bruto do agregado e sem fazer qualquer discriminação positiva no caso dos estudantes deslocados, nem tampouco tendo em conta os encargos de saúde e de habitação com que alguns agregados se deparam.
Os estudantes deslocados mais carenciados chegam muitas vezes à matrícula ou ao primeiro dia de aulas sem dinheiro suficiente para se alimentar e alojar durante um ou dois meses (note-se que lhe são cobradas taxas de alojamento e no mínimo 2 meses de renda), não tendo os Serviços de Acção Social e muito menos os Técnicos qualquer fundo de emergência social para os salvaguarar em momentos de grave situação económica ou de urgência de alojamento.
As grandes cidades, hoje povoadas por turistas em trânsito, estão a esquecer-se dos residentes, dos trabalhadores e das comunidades universitárias que há décadas contribuiem significativamente para as suas economias, para o desenvolvimento e para a sua sustentabilidade.
Se estas grandes cidades só se lembram da moda e da rentabilidade gerada com os alojamentos locais a elevado preço de turista, espero que um dia os estudantes e as comunidades académicas não lhes voltem as costas e não venham a deslocar-se para os concelhos vizinhos, como fizeram ou foram obrigados a fazer os antigos residentes locais.
Depois, não venham queixar-se de que há falta de gente em alguns locais, nem do envelhecimento acentuado.
Um País e uma Cidade que se quer afirmar pela Ciência, pela Tecnologia e pela Investigação e Desenvolvimento, e ainda como detentores das melhores comunidades e Universidades do Mundo, tem de se esforçar por acolher e integrar o melhor possível os seus/nossos estudantes, professores, investigadores, entre outros trabalhadores e visitantes.
Vejamos que um estudante deslocado do ensino superior tem em média os seguintes encargos:
● 200€ a 250€/mês para alugar um quarto. Este ano no Porto já há quem exige 300€ por um quarto, sem despesas incluídas e nem sempre nas melhores condições, o que considero um abuso;
● 100€/mês para a propina;
● 100€ a 150€/mês para alimentação e muito poupadinho. A refeição em cantina ronda os 2,40€, mas é preciso um pequeno almoço, almoço, lanche e jantar;
● 50€/mês para despesas gerais decorrentes da frequência do curso (fotocópias, livros e outros materiais);
● 36€/mês para passe estudante da rede geral.
Contas feitas, um estudante deslocado (poupadinho) precisa de ter disponível cerca de 500€/mês, dinheiro este que é injetado diretamente na economia de uma Cidade que nem sempre tem as portas abertas para o acolher e ajudar nos momentos de maior fragilidade.
Esta falta de sensibilidade e de solidariedade social está a afetar sobretudo os idosos e os jovens.
Recordo por isso que novos somos ou fomos e idosos seremos muito em breve.
Que Estado Social e de Direito Democrático é este onde vivemos e para onde caminhamos?
Onde pára a liberdade, a justiça e a solidariedade?
Procurando ajudar, na medida dos meus conhecimentos e possibilidades, dixo aqui algumas dicas para facilitar na procura de alojamento:
● Antes de pagarem taxas, cauções e/ou meses adiantados, pesquisem no Portal da Queixa ou no Google quais são as opiniões sobre determinadas agência ou sennhorios que não acolhem bem os estudantes e que os ludibriam com contratos que os prendem a cauções e indemnizações, mesmo quando o alojamento não corresponde ao anunciado;
● Hoje há muitas aplicações e sites que se dedicam a explorar o negócio do arrendamento de quartos ou casas/apartamentos, mas a minha experiência, enquanto técnico superior de acção social e de apoio ao estudante, diz-me que as melhores soluções ainda passam pelo contacto de proximidade, pela opinião dos colegas e pela visita a diferentes opções antes de assinarem contrato ou pagarem. Ainda há muitos senhorios mais tradicionais que confiam nos estudantes e não pedem caução nem meses adiantados;
● Recordo que todos os estudantes bolseiros que concorrem a um lugar na residência de estudantes, mas que não têm lugar, podem aceder a um complemento de alojamento na ordem dos 126€/mês, mas só se tiverem recibo de renda. Informem-se junto dos SAS/Técnicos;
● Se tiverem dificuldades em conseguir um quarto com contrato e recibo, sugiro que se juntem com colegas e arrendem um apartamento, sendo que podem sempre converter a sala num quarto e ficar mais económico;
● Sugiro que, primeiro, comecem pela via tradicional, começando por perguntar nas Faculdades (Gabinetes de Apoio ao Estudante e SAS), bem como aos colegas de turma/curso, se conhecem algum quarto ou apartamento livre.
● Depois, pesquisem nos espaços próprios que as Faculdades e Associações de Estudantes têm para afixar e divulgar os alojamentos disponíveis, conhecidos e em locais mais seguros;
● Aproveitem um fim-de-semana com os pais ou amigos e dêem uma volta pelos arredores da Faculdade e vejam os anúncios afixados nas ruas, nas janelas, nos cafés e mercados de proximidade;
● Metam-se no metro e procurem junto de todas as estações, sendo que em poucos minutos estão na Faculdade;
● Se por essa via mais tradicional não conseguirem o alojamento que procuram/pretendem, passem para a via digital, mas antes de avançarem para aplicações que não conhecem, procurem em grupos do facebook, no CustoJusto e no OLX, sendo que há atualmente muitos proprietários que optam pela divulgação online, sendo sempre preferível o contacto direto com o proprietário e negociar o preço com ele do que aceitarem contratos com plataformas informáticas ou sites que não conhecem e que por vezes nem vos permitem ver o quarto/casa antes de pagarem, sendo que essas empresas digitais lucram com os contratos, mesmo que vocês não fiquem ou o alojamento não seja como indicam nas fotos;
● Prestar sempre muita atenção a todas as cláusulas do contrato, sendo que depois podem vir a ingressar nas residências de estudantes ou conseguirem um alojamento melhor e mais amigável e terão de suportar os encargos por quebra de contrato. Prestem atenção que é necessário e cordial avisar o senhorio com alguns meses de antecedência, antes de abandonarem o quarto/casa. Primeiro porque os contratos assim o determinam e porque deve sempre haver respeito mútuo;
● Nunca coloque de parte o aluguer de um quarto junto de uma pessoa idosa e solitária. Vai perceber que é uma excelenste experiência. Há até o Programa Aconchego que visa trocar companhia por alojamento. Se não se adaptar, pode sempre porcurar outras alternativas;
● A procura de alojamento pelo método tradicional e de contacto de proximidade chega a ser mais económico, mais calmo e mais seguro. Há diversos senhorios que não cobram o mês de agosto e guardam o quarto para o ano seguinte. Nada melhor do que manterem um bom relacionamento entre colegas, vizinhos e senhorio;
● A maioria das Juntas de Freguesia não presta apoio à integração e inserção na localidade, o que é uma fragilidade. Algumas até impedem a afixação de anúncios nos espaços públicos, mas o certo é que não desenvolvem nem disponibilizam espaços físicos ou electrónicos para o efeito (deixo a sugestão, já que os estudantes e toda a comunidade académica muito contribuem para a economia e emprego nessas localidades);
● Procure outras residências que não as das Universidades, sendo que também já vão aparecendo.
● Não havendo locais apropriados para este tipo de anúncios, sobretudo direcionados para os estudantes que afluem em massa após as colocações no ensino superior, deve sempre adiantar-se para poder procurar, ver e comparar com calma, sob pena de ir parar a um mau alojamento/local. Tente procurar em cafés locais, mercearias, papelarias, centros de cópias, sendo que há sempre alguém que conhece alguém que costuma alugar quartos a estudantes.
● Caso não encontre o que procura ou não conheça ninguém para apoiar e esclarecer sobre as melhores formas de procura e de local, pois então recorra à tecnologia, mas sempre com muita atenção, sendo que não falta quem se queira aproveitar da sua inexperiência, pressa ou descuido. O que mais há é aplicações para telemóvel, sites e outros canais mais informais com anúncios. Comece pela tentativa de partilha de apartamento, sendo que irá encontrar colegas à procura de outros para arrendar casa em conjunto;
● Alguns sites e plataformas são:
》OlX;
》 CustoJusto;
》 Facebook (casa/quartos);
》 Imovirtual;
》Idealista;
》FixeAds;
》CasaSapo
》 Uniplaces (ver alertas no Portal da Queixa, sendo que são cobradas taxas e cauções e muitos contratos são de curta duração)
E claro as agências imobiliárias que se regem por regras e contratos mais apertados, mas também mais seguros.
Boa sorte e bons estudos.
Se necessitar de apoio encontre-nos em www.bolsaup.com ou www.facebook.com/bolsas.universidade
José Pereira
Técnico Superior de Acção Social e de Apoio ao Estudante